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LILIAN MARIA

I. Sobre o autor

Nascida no Rio de Janeiro em 1975, Lilian Maria escreve sob o psedônimo de Liz, uma luz feminina à margem. Grande apreciadora das letras, e, em especial do estilo gótico, vê na arte literária, uma fonte de análise do mundo e instrumento de expressão das idéias mais torpes às mais sublimes, inerentes a todo ser humano. Contatos pelo e-mail lilianmaria@superig.com.br


II. Suas Obras


Poeta - que Ser é esse

O que é ser um poeta? Penso, reflito, divago se será

Um mentiroso talentoso?
Um raivoso orgulhoso?
Um ocioso fabuloso?
Um habilidoso desgostoso?

ou
Um tosco que vislumbra o adiante?
Um vadio brilhante?
Um eu distante?
Um súbrio com a mente inebriante?

ou será

Um tal miserável,
No mundo real é execrável?
Fortaleza do obscuro e intolerável?
Proclamador do absurdo e admirável?

ou quem sabe

Um oferecedor do reticente alento?
Um pássaro negro de bom alento
Que entre vivos e mortos selou um juramento?
Céu, terra passarão mas palavra nunca ao vento.

ou talvez

Um ambicioso por sofrimentos?
Um vacilante entre sentimentos?
Um insustentável como o pai da choro, o tormento?
Ou eu ou você num momento?

Ainda penso, reflito, divago...


Ratos

Em que pensaste quando leu este título? . . . . . . . . . . ., pois é, pensei em mim, em ti, em tanta gente. Tomei a liberdade de nos comparar a eles, ou seria compará-los a nós? Será que dá mesmo para haver comparação? Todos, até onde sei, sem exceção, gostam de ser comparados a certos bichos. Você, por exemplo, deve conhecer muitas gatas, toupeiras, onças, piranhas, cobras, muitos touros, gaviões, burros, cachorros, enfim, talvez um considerável zoológico. Certamente, muitos preferem carregar no ombro um título desses aí, a serem visualizados como um rato. Já ouvi: “mal comparando, fulano parece um rato!”, entretanto nunca ouvi: “mal comparando, fulano parece um gato”, já que se sabe que os bichanos sofrem com um certo mau-humor igual a muitas pessoas. Em tempos de pósmodernidade, onde todos supostamente tem vez e voz, por que não permitir que um rato também manifeste sua indignação com tanta estupidez?

Estamos no sèculo XXI, era moderníssima. Tantas coisas a disposição, e mães dispõem seus bebês em latas de lixo, beiras de rio, matam, sóbrias ou ébrias, por isso ou por aquilo, ou sem isso ou sem aquilo. Pessoas queimam pessoas, matam nem por falta de simpatia, matam sem a mais pobre razão. “Matei porque estava fora de mim!”, palavras solenes de alguns. Acho que nunca o mundo extra-físico foi tão requisitado.

Voltando ao mundo material, a bebida tem sido excelente entrada para o esgoto de onde alguns escapam com sacrifício e decência. Esgoto, de certo modo, é uma condição não só dos ratos mas humana também. Lá estão toda a podridão que tranquilamente nos colocaria á margem, que faria de nós coisas abjetas, recusadas. Neste âmbito, nós é que temos de pedir licença para adentrar a casa dos outros, dos ratos. O esgoto para eles é exterior, apenas um abrigo, defesa; em nós a sujeira está dentro, cada vez mais densa, pronta a irromper os limites, inundar e exalar o fedor da crise.

E o que dizer das mulheres que parem continuamente como ratas? Só vejo diferença no tempo de gestação. A prole de muitas mulheres se resume tal como a dos ratos, em esmolar restos e aterrorizar pessoas, com a sutil diferença que a rata não reflete nem raciocina. . .

Outra coisa atribuída aos ratos é a covardia, são os primeiros a abandonar o navio, é o que costumeiramente dizem. Já vi muita gente abandonando sonhos, realidades, lugares, momentos. Ouve-se muitas coisas bizarras mas nunca se ouviu falar de um rato que tivesse abandonado sua rata companheira de muitos momentos por outra mais jovem após conseguir um pouco mais de status, um esconderijo melhor com mais sobras de comida ou Ter se tornado um rato de estimação. Se eles abandonam o navio mesmo, não fazem nada além de lutar pela sobrevivência assim como todos fazem. Fugimos da sua presença, pois quem é deveras corajoso para enfrentar um bichinho que vem de lugar tão sujo, se não Conseguimos encarar nossa própria imundície? Ele assusta, ameaça mas nem sempre morde; nós assustamos, amedrontamos, apavoramos, torturamos, ludibriamos, agredimos e quase sempre cumprimos as ameaças que fazemos cientes, como seres racionais que somos.

Não tenho a menor intenção de advogar em favor de animal algum, nem dos rejeitados ratos nem dos amáveis pandas. Dizem que cada criatura tem seu valor, que existe algo nela que a enriquece e a empobrece. Não tenho em mente, a ínfima idéia do valor que alguém vá atribuir a um conto sobre ratos. Tenho em mente a certeza de que os ratos se sentiriam frustrados se tivessem consciência de com quem estão sendo comparados.