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SANDRA LIMA

I. Sobre o autor

Sandra Lima, 32 anos, é carioca formada em Publicidade pela ESPM-RJ. Participou por menção honrosa da coletânea do IV Festival de Poesia do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro - 2004, com o poema "Um Segundo"


II. Suas Obras




Despedida “de mim”

Algo estranho me acontece,
Sinto uma vontade de gritar...
Uma mudança se processa
E não há meio de parar...

Enquanto um redemoinho varre tudo dentro de mim,
M´inha alma se re-processa como uma reciclagem espiritual...
Meu coração deixa de existir e ressurge renovado,
Entre as cinzas do incêndio astral...

Quero encher meus pulmões de todo ar que eu puder sugar,
E expulsar no sopro mais forte que for capaz de dar
Toda mágoa e tristeza que o tempo ou a perda dele fez acumular....

Vou abrir as portas e janelas de meu coração,
E que entre toda luz necessária para me renovar...
Não terei mais medo! Nem do próprio medo, quanto mais da solidão...
E despeço-me dela sem qualquer lágrima deitar...

Retomo neste instante as rédeas de meu destino,
Cavalgarei livre e completamente nua de qualquer compromisso
Pelas estradas que eu mesma traçarei...
Vou dar adeus a tudo o que me sufoca,
Vou me despedir até mim, e me reencontrarei...

Eu me reencontrarei mais adiante...
Serei a mesma mulher sim, mas com idéias, pensamentos e sentimentos diferentes,
E então, mais confiante...


Carta de um Guarani ao Rei de Portugal



Era manhã de um dia de Abril. Eles chegaram em grandes barcos, e desceram nestas terras, com estranhos panos sobre seus corpos sujos, com cabelos longos nas faces; e nos olharam com espanto. Depois vieram outros que se vestiam de forma engraçada. Diferentes dos primeiros, estes usavam vestidos.

Nós, que até então andávamos livres pelas florestas, sem nos preocuparmos com o passar das horas e dos dias, nos vimos forçados a também cobrirmos nossos corpos, como fossemos estranhos em nossa própria casa. E estes, os que usavam vestidos, nos ensinaram a falar sua língua, para que todos pudessem se entender. Mas, a única coisa que tínhamos a entender era que eles mandavam e nós obedecíamos. Eles trouxeram consigo a dor, a doença e a morte para o nosso povo.

E não ficaram satisfeitos com isso, pois trouxeram outros, entre homens e mulheres, que não eram brancos como os primeiros, e também não eram índios como nós. Eles tinham a pele escura e também vieram nos grandes barcos. Assim como nós, estes outros também foram prisioneiros e submissos ao mando dos estranhos homens. Foram tempos de muitos sofrimentos!

Passaram muitos anos, até que veio a tal libertação dos homens, mulheres e crianças de pele escura, e também vieram às guerras, mais morte, mais dor e doenças. Como entender estes estranhos homens? Eles nos tiraram a liberdade de andar pelas matas sem compromisso com horários, nos fizeram aprender sua língua, costumes e crenças, mas das terras de onde vieram também os seus não se entendiam!

Estes estranhos homens que se destroem a todo instante, e a nós e a outros povos, hoje falam de uma tal Lei dos Direitos Humanos. Mas, quem manda e quem obedece a essa Lei?

Falam também de uma tal liberdade de expressão, mas mandaram para outras terras alguns dos seus que diziam coisas que nem todo mundo poderia ouvir ou sequer pensar!

Quando nascemos nestas terras, não havia prédios nem carros, trens ou aviões. Não havia ruas ou praças, e os bichos eram livres! Podíamos ver os pássaros voarem por entre as árvores e as flores crescerem nos campos!

Como num passe de mágica, vieram as máquinas, que de tudo um pouco faziam. E como foi difícil para nós entendermos todas estas coisas, chamadas evolução e tecnologia. Dizem que é para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mas, por que derrubam nossas árvores e poluem nossos rios? E veja só o que fizeram com a nossa língua! Não me lembro mais como eram os cantos e nem as orações do nosso povo, mas aprendi a dizer “Pai nosso que estais no céu”... E me pergunto: Este pai nosso é de todos os povos, ou somente dos estranhos homens de vestidos?